Pular para o conteúdo principal

A SOBERANIA DE DEUS


                O tema da soberania de Deus é um dos mais apreciados pelos que gostam de debater teologia. Há o famoso debate “A soberania de Deus X A responsabilidade humana”, que frequentemente é apresentado como um dos pontos “chave” para a compreensão do relacionamento entre o Criador e a Criatura. Não vejo problema algum em debates, e acho até que em muitas ocasiões são importantes, mas esse não é o meu interesse no presente texto. Também não quero apresentar uma proposta de solução para a aparente contradição entre os desígnios de Deus e as ações humanas. Quero mesmo é falar que Deus é soberano e o quanto essa compreensão tem estado distante do povo que se chama evangélico.
Soberania significa a qualidade de algo ou alguém que tem autoridade superior. No caso de Deus – criador e sustentador de todo o universo – é uma autoridade que está acima de todas as coisas em qualquer tempo ou lugar existentes.
Embora a verdade sobre a soberania de Deus seja amplamente aceita e mencionada na retórica evangélica atual, penso que nada poderia estar mais distante da vida privada e dos ajuntamentos dos cultos dos nossos dias.
Um simples olhar para o culto evangélico atual e para as ideias presentes em músicas, livros e postagens, revela que Deus tem sido visto como um servo e o homem visto como um senhor. Tenho uma ilustração que pode ser útil: no nosso imaginário, somos sábios arquitetos e Deus é nosso pedreiro competente. Basta projetar e Ele executa. Assim como um pedreiro é contratado por um arquiteto com um propósito específico, damos a Deus um propósito específico: executar o que desejamos e tornar as coisas melhores para nós. Se Ele cumpre a tarefa, nós gostamos dele e o recomendamos para outros “clientes”. Se Ele não faz, entramos em guerra e anunciamos sua “demissão”.
Qualquer pessoa que cria determinada coisa é livre para lhe atribuir um propósito. O homem que criou o automóvel atribuiu um propósito ao automóvel. Aquele que criou o celular deu um propósito ao celular. E assim acontece com todo o resto. Tudo aquilo que é criado tem seu propósito definido por quem o criou.
Então, qual de nós poderia atribuir a Deus um propósito e julgá-lo com base no cumprimento ou descumprimento desse mesmo propósito, visto que somos suas criaturas e não seus criadores? Quem poderia completar a frase “Deus existe para ____________”, visto que Ele é o único que não recebeu o ser de ninguém? Ao responder a pergunta de Moisés o Senhor foi direto ao ponto: Eu sou o que Sou! (Ex 3.14).
Quando olhamos para o Deus descrito na Bíblia, ou mesmo contemplamos a sua criação, somos levados a uma só conclusão: Ele é o soberano criador e sustentador de todas as coisas! Sua justiça é santa, e por isso Ele dá vida e também mata quando assim desejar (1Sm 2.6)! Sua graça é santa, e por isso Ele dispensa sua misericórdia sobre quem lhe aprouver (Rm 9.15)! Seus planos são santos, e por isso Ele endurece a quem quiser endurecer para cumprir seus desígnios (Rm 9.18)! Ele pode dar vida e pode matar; pode salvar e pode condenar; pode quebrantar e pode endurecer; pode conceder e pode tomar; pode curar e pode enviar a doença; tudo isso sem que nada seja injusto! Tudo isso sem que nada coloque em xeque sua justiça santa e seu caráter perfeito.
Exercer soberania plena é uma prerrogativa de Deus e Ele a exerce em todos os sentidos.
Portanto, como explicar nosso costume de dar ordens a Deus, “determinando”, “decretando” e “profetizando” o que Ele deve fazer? Como explicar nossa sede por conhecer o futuro que está nas mãos do Todo-Poderoso? Qual a razão da nossa ira direcionada aos céus quando nossas expectativas humanas não são satisfeitas?
Muitos em nossos dias servem ao deus criado em suas próprias mentes. É o deus que tem propósitos definidos pelo próprio homem. É o deus que se levanta todos os dias com sua folha em branco, pronto para anotar as orientações dos sábios determinadores e profetizadores, sem ter, ele mesmo, plano algum.
É o deus mais falso de todos, que não se assemelha em nada ao Deus Todo-Poderoso. Um deus que se submetesse em todo o tempo à vontade humana seria o ser mais fraco e pobre em todo o universo. Um deus que recebe orientações e sugestões do homem não é o Deus da Bíblia; não é o Deus em quem creio. Não faz sentido servir a um deus que depende de mim para o que quer que seja.
Se para alguns o conhecimento do Deus verdadeiro é decepcionante, visto que Ele não recebe ordens, para os salvos é o bem mais valioso em toda a vida; é a razão do descansar. Não há maior bem-aventurado que aquele que esvaziou sua consciência do deus fabricado e, no lugar, preencheu com o Deus que É! 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A ponte que me liga a Deus

A pergunta é velha: como um homem mau e culpado pode se relacionar com um Deus bom e justo? Há respostas para todos os gostos. Todas são verdadeiras? Não. Quando se fala em verdade e mentira, logo surge a ideia de que cada um tem a sua verdade. Tudo passa a ser relativo e acaba sendo atrelado a opiniões e experiências particulares de cada pessoa. Papo furado. Se tudo fosse verdade, não existiria verdade alguma. A verdade é uma só (João 14:6). Sobre o tema da pergunta, acho válido dizer que existem aqueles que acham que ela nem faz sentido, já que não se consideram nem maus nem culpados, e outros nem sabem que Deus é justo. Mas há também muitas pessoas que se perguntam como podem estar diante de Deus, tendo consciência de que não são moralmente capazes de ser aceitáveis diante Dele. Acho que o texto é para essas pessoas. Mas o que seria não ser “moralmente capaz”? Faça um simples exercício. Considere os seguintes mandamentos: Amar a Deus acima de todas as coisas e amar o

Fiel em parte, ou totalmente fiel?

As pessoas sempre buscam algo em que possam “apoiar” suas emoções, se firmar quando passam por problemas. Queremos ter certezas que nos deem razão. Somos todos assim. Perigoso é quando nos firmamos em mentiras, meias verdades ou até mesmo em partes de alguma verdade. É comum encontrar pessoas que em suas declarações e postagens fazem menção a algum trecho conhecido da Bíblia. Exemplo: “Nunca imaginei sofrer como estou sofrendo, mas sei que o meu Redentor vive! Meus inimigos serão humilhados! De falsos, quero distância!! #aalegriavempelamanha #meuredentorvive #falsidadeaquiemato #vcfoiofeijaoqueeupenseiqueerasorvete”. Realmente existe uma passagem na Bíblia com a frase “sei que meu redentor vive”. Mas também é verdade que a Palavra de Deus é cheia de muitas outras falas, com muitos outros ensinamentos, tais como os conselhos sobre perdão e sobre ter paz com todos. E é aí que entra a pergunta do título deste texto: A Bíblia é fiel apenas em partes ou fiel em todo o seu