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A ponte que me liga a Deus



A pergunta é velha: como um homem mau e culpado pode se relacionar com um Deus bom e justo?
Há respostas para todos os gostos. Todas são verdadeiras? Não.
Quando se fala em verdade e mentira, logo surge a ideia de que cada um tem a sua verdade. Tudo passa a ser relativo e acaba sendo atrelado a opiniões e experiências particulares de cada pessoa. Papo furado. Se tudo fosse verdade, não existiria verdade alguma. A verdade é uma só (João 14:6).
Sobre o tema da pergunta, acho válido dizer que existem aqueles que acham que ela nem faz sentido, já que não se consideram nem maus nem culpados, e outros nem sabem que Deus é justo.
Mas há também muitas pessoas que se perguntam como podem estar diante de Deus, tendo consciência de que não são moralmente capazes de ser aceitáveis diante Dele. Acho que o texto é para essas pessoas. Mas o que seria não ser “moralmente capaz”?
Faça um simples exercício. Considere os seguintes mandamentos: Amar a Deus acima de todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo. Considere ainda o que é dito em Tiago 4:17: “aquele pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” (ACF). Você poderia dizer que nunca infringiu algum dos três? Não, não poderia. Então, não há como chegar a outra conclusão: Você, eu e todo mundo somos pecadores! Não há quem possa bater no peito e dizer que nunca pecou. Se o pecado é uma afronta ao Deus santo, todos, merecidamente, seríamos réus no justo juízo divino (Salmos 51:4). E não só isso, mas também merecedores do castigo que é a total destituição da Glória de Deus por toda a eternidade (Romanos 3:23).  
Daí temos o fato de que as diversas religiões existentes tratam justamente do tema da aceitação do homem por parte da divindade adorada. Não é de se estranhar que a maioria das religiões trazem métodos para tentar aplacar a ira do “deus” cultuado. Isso se dá pois há uma noção pessoal em nós, dada por Deus, que revela que o comportamento humano se dá na contramão do padrão de caráter Divino (Romanos 1: 18-21).
Disse anteriormente que há diversas respostas para a pergunta do primeiro parágrafo, e que só uma delas é verdadeira. Boa parte da igreja cristã também tem apresentado uma resposta equivocada. A falta de cuidado com a revelação dada nas Escrituras faz com que muitos falhem quando pensam em como podem se relacionar com Deus. Digo isso observando o comportamento dos que professam a fé cristã. Não raras as vezes encontramos pessoas querendo se achegar a Deus com base no cumprimento das diversas regras religiosas, ou mesmo pelo bom comportamento que acham que têm. 
Mas, qual é, então, a resposta bíblica para a questão da reconciliação do homem com Deus?
Cristo.
De tão simples, muitos não entendem.
Na Cruz, Cristo recebe a punição pelos pecados dos homens e nos oferece sua justiça (Isaías 53:5). Assim, a dívida é paga e somos declarados justos, ou seja, estamos quites com a Lei de Deus (Romanos 8:4). O que era nosso (pecado), Cristo levou, e o que era Dele (justiça), nós recebemos.
Entenda que Deus não poderia ser injusto, soltando uma série de culpados sem que a justiça fosse satisfeita (Ezequiel 18:4). Por isso, na Cruz ele se torna justo e, ao mesmo tempo, justificador daquele que crê em Jesus (Romanos 3:26). E esse “crer” não se resume a uma compreensão intelectual. É tanto compreensão quanto rendição (Lucas 6:46).
E ainda tem quem não goste do método de Deus para salvar? Tem.
O Evangelho nos humilha. Primeiro quando mostra que todos somos falhos e fracos, sem mérito algum (1 Timóteo 1:15), e em seguida quando deixa muito claro que é somente pela Graça de Deus que somos resgatados (Efésios 2:8). Quem gosta de ouvir uma acusação como essa? Quem gosta de ser chamado de transgressor? Gostamos mesmo é de ser elogiados. Gostamos de pensar que Deus nos salva para não morrer de tristeza por não nos ter com Ele no céu. Além da vaidade de nos acharmos “bonzinhos”, o orgulho que reside em nós não quer que aceitemos favor de ninguém. Então, nos esforçamos para tentar pagar pelo favor de Deus. Vamos à igreja, recebemos cargos, damos ofertas, tudo com a finalidade de atrair a atenção de Deus. Perda de tempo. Para segui-lo precisamos desistir de nossas ideias orgulhosas.
Na Bíblia, boas obras não são a causa da salvação, são apenas a consequência dela. Só tem acesso a Deus aquele que crê em Seu Filho (João 14:6).
É comum pensarmos que havia em Deus algum tipo de “amor carente” que o fez resgatar pessoas por não conseguir ficar longe delas. Não faltam livros, músicas e pregações que são centrados no ouvinte e no quanto ele é importante. Porém, uma leitura do primeiro capítulo do livro de Efésios deixa bem claro que Deus fez o que fez para louvor de Sua Glória. Realmente Ele é amor, mas isso nunca significou que ele se rendeu ao “valor” humano. Amor diz respeito ao caráter de quem ama, não de quem é amado. Se somos salvos é para louvor da misericórdia de Deus.
Se nós realmente queremos ser reconciliados com Deus, temos que nos render diante de sua obra de salvação. Não é pelas obras que praticamos (Efésios 2:9); é pela graça alcançada pela fé em Cristo. E não apenas no dia da conversão, mas por toda a vida, do primeiro ao último pecado que você cometer. A tentativa de justificar a si mesmo sempre foi e sempre será um fracasso.
Deus e o homem estavam em lados opostos do abismo, mas o Senhor construiu uma ponte que nos permite atravessar esse abismo. Cristo é a ponte. Quer chegar onde Deus está? Vá pela ponte que Ele construiu; não tente passar de outra forma.
Não são seus passos que precisam ser firmes. A firmeza está na Ponte. Pode passar que ela aguenta.
Sem a Ponte você cai no abismo. 

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